A alma e a matéria

Por Arysa Souza

Eu estava muito distante, mas as luzes e a grandiosidade do momento o aproximavam de mim. O palco do Teatro Castro Alves, neste dia, estava maior do que normalmente: parecia vivo. Fulgor avermelhado, imagens de velas projetadas, iluminação bailando, todos perfeitamente ensaiados. A luz intensa e quente ao fundo do cenário desenhava silhuetas deslumbrantes, atenuadas pelas vestimentas negras de todos sob o tabalado. O fagote, cello e trumpete ganhavam contornos delicados e uma luz muito sutil incidia sobre os personagens que ali estavam, destacando a estrela da noite: Marisa Monte.

Não era um show como os outros. Estava tudo em perfeita harmonia. Os flashes luminosos dançavam e mudavam de tom e o cenário ganhava novos adereços, tudo conforme a música. “O meu canário já não canta, com certeza se desgostou, piu-piu, piu-piu, piu-piu”. E num pequeno intervalo, com um apagar de luzes natural e imperceptível, aparece sob o tablado um pássaro numa gaiola de madeira que voava acompanhando a melodia. A sintonia estava presente em cada detalhe. Os músicos estavam posicionados como numa orquestra, arrumados em três fileiras. A cantora no centro, nas laterais, no centro, nas laterais, era seguida pelo canhão de luz alaranjado. Sombras, emoções, claridades, anseios, objetos, vida. Assim era o palco: “A alma e a matéria”.

Estava lindo o Universo ao meu Redor, coisa que nem mesmo o meu Infinito Particular pode descrever com toda lealdade que o momento mereceu.