segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Separados pela desigualdade social

Silmara Miranda

Apesar de ser tão próximo à minha casa, nunca tinha estado naquele lugar antes e confesso ter ficado impressionada por tão pouca distância dividir dois mundos completamente diferentes. O Calabar é um bairro que está dentro de Ondina, mas os habitantes nada têm a ver com o estilo refinado dos moradores elitizados da classe nobre.
Ao entrar no Calabar, cem metros depois a passagem só pode ser a pé. Por lá não passa carro, pois o corredor de 500 metros que dá acesso à todas as casas tem apenas um metro de largura. Esse mesmo corredor é formado por placas de concreto vazadas entre si que cobrem o esgoto que corre à céu aberto, sem saneamento básico. O problema se dá quando chega o período de chuva. As casas abaixo da linha do corredor são presenteadas com o esgoto que, devido ao lixo que disputa lugar com ele, entope, desce as escadas e invade a moradia de famílias constantemente inundadas. Por isso, é comum os moradores terem doenças de pele ou qualquer outra mais grave.
Em uma caminhada à qualquer hora do dia é possível perceber nossos sentidos. A visão enxerga de perto o que qualquer morador faz dentro das casas, com portas e janelas sempre abertas e o corredor em frente. É impossível qualquer tipo de privacidade. O cheiro de esgoto é forte em alguns momentos da caminhada e as músicas tocadas em alto som na estação preferida do rádio vão embalando a alegria dos moradores que disputam com a música do vizinho. As rádios podem variar, mas o estilo musical é sempre o mesmo: pagode.
Sem nenhuma infra-estrutura, numa completa desordem, casas vão sendo construídas umas em cima das outras pelos próprios moradores, uma forma de abrigar todos os filhos que vão se casando e também não têm condições de morar em outro lugar. Há quem diga que, na verdade, eles adoram o bairro e não querem se mudar dali.
A situação é precária, mas os moradores sabem se divertir. No mundo deles também há lan house, videolocadoras e bibliotecas criadas pelos moradores, além das festas que acontecem na quadra. Final de semana, quando sai um sol, o corredor fica movimentado, os moradores se apressam para chegar à praia cedo e pegar um lugar ali, bem pertinho do vizinho deles, no Farol da Barra.

Um comentário:

Leandro Colling disse...

Fico mais satisfeito com a tua descoberta que com o texto, que tá legal, têm observação