Rafaela Anunciação
Final da rua Pedra da Marca, na Avenida Cardeal da Silva, uma casa azul chama a atenção dos passantes, principalmente aos sábados, quando o mistério paira no ar. Passando por um pequeno portão observamos folhas de guiné e espadas de Ogum plantadas num vaso e gritando pela mudança de espaço urgentemente. Damos alguns passos e paramos em frente a um outro portão, um pouco maior, seguido de um beco nem largo, nem estreito, na medida para que duas pessoas consigam caminhar lado a lado. Algumas plantinhas ficam espalhadas pelo chão, alguns baldes de tintas empilhados uns sobre os outros e, pendurada sobre uma lavanderia, um pé de alfinete.
De repente, algo interessante chama a atenção: uma espécie altar feito com azulejos – desses utilizados para colocar em chão e paredes – ornado com flores vermelhas e sete velas da mesma cor, uma imagem em gesso de mulher negra com cabelos compridos até o meio da cintura igualmente negros, vestida com uma calcinha preta, apresenta-se com os seios nus. Por detrás dessa escultura, um adorno do que parecem ser as costas de uma saia, porém diferente, a suposta saia é dividida em sete pedaços. Suas pernas grossas ficam à mostra apenas na frente. A figura parece debochar de quem a observa, mãos na cintura, meio sorriso nos lábios, olhar sério e firme, pés descalços. Uma mulher, aparentando seus 53 anos, nos apresenta: essa é a imagem de Sete Saias, uma Pomba Gira que gira.
Entramos numa casa de três andares, aparentemente comum, um Poodle branco vem nos receber alegre e pulando como a solicitar um afago e abana o rabinho como a agradecer. Cadeiras se espalham por toda uma sala, nela uma TV, um som que toca uma música com batidas castelhanas, uma mesa com a imagem de outra mulher, esta parece concentrada em uma oração, enfeitada com alguns colares e um enfeite na cabeça, chamada de Santa Sara Kali.
Ao lado esquerdo da porta de entrada, uma outra, tipo sanfona, guarda por trás de si um mistério indescritível: um novo altar, dessa vez em mármore branco, sobre ele mais algumas imagens e um colorido que chega confundir a visão. Branco, vermelho, verde, azul, amarelo, lilás, rosa se misturam quase formando um arco-íris. Nesse mesmo quarto, uma estante com livros de temas variados e uma mesa tendo sobreposto um baralho, uma rosa vermelha, blocos de notas e algumas anotações espalhadas.
Fora do quarto, uma canção alegre contagia todos que estão no local – que se torna pequeno diante de tantos espectadores. Mulheres enfeitadas com saias compridas e estampadas, blusas decotadas dão ao ambiente um clima de festa. Os homens vestidos de forma simples também fazem parte do belo cenário colorido. Todos estão concentrados aguardando o início de mais uma reunião cigana no Centro Espírita Estrela Guia das Sete Pontas.
segunda-feira, 10 de setembro de 2007
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Um comentário:
muito bom, transporta o leitor para o local
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