Itapoan tem um cheiro especial. Há quem diga que cheira a peixe podre e que as ruas estão sempre sujas. Motorista por aqui é “dono da rua” mesmo, sempre tem alguém conhecido andando sobre a calçada e você corre o risco de levar uma “cagadinha” de pombo na testa. Mas Itapoan é meu vício. Vício de coisas simples. De gente simples que te faz parar o turbilhão avassalador da rotina, para reparar coisas que você vê todos os dias e não enxerga.
Itapoan mistura tudo. Pretos e brancos, baianos e turistas, gente pobre, gente rica. Homens e mulheres. Mistura o pôr-do-sol com o cheiro de maresia. O barulho dos carros com a gargalhada da mesa vizinha. Tudo junto em harmonia perfeita. O quiosque do Carlinhos é assim. Um amontoado de mesas amarelas, sombreiros azuis, gente diferente fazendo a mesma coisa no meio de um largo circular que fornece quatro direções diferentes. O quiosque é redondo. Feito de tijolinhos vermelho-escuro, envernizados. Suas laterais são janelas sempre abertas durante o horário de funcionamento. O teto é feito de telha e lembra aqueles chapeuzinhos de festa de aniversário. Uma pirâmide circular de cerâmica clara.
Dentro do quiosque há três freezers velhos e enferrujados - mas que funcionam que é uma beleza – além de garrafas coloridas com todo tipo de bebida. A cerveja está sempre gelada. Duas amendoeiras em conjunto com os sombreiros, enormes, fornecem sombra às mesas amarelo-ouro do fabricante de cerveja, dispostas paralelamente, umas às outras, até a beirada do largo, quase beijando o asfalto da rua. As cores são variadas. O preto da nativa se mistura ao branco do turista, ao amarelo da cerveja, ao marrom do acarajé, ao bege do amendoim cozido, sob um céu azul anil e a folhagem verde das árvores.
Sem teto, sem paredes, no meio da praça que fica no meio da rua. Lugar perfeito para presenciar o reencontro de amigos, ainda de pés sujos do futebol na areia e sunga molhada da praia que fica do outro lado da rua. Briga de casais que, emburrados, olham em direção oposta, um para a subida da ladeira asfaltada que desemboca na Lagoa do Abaeté e ela, como se pedisse o socorro de Nossa Senhora da Conceição, olha em direção da Igreja azul de Itapoan. Ele, de bermuda azul, camiseta verde, tipo regata, boné preto e sandálias havaianas verde-escura, toma cerveja. Ela, enquanto “bufa” de raiva no seu vestidinho estampado, muito curto, toma Coca-cola – com gelo e sem limão - e aprecia o desenho do paralelepípedo preto e branco abaixo da sandália amarela, que sobe amarrada no tornozelo.
O vento bate na folhagem e perfuma o ambiente com a maresia trazida da praia no fim da tarde que cai, acompanhada do crepúsculo que se vê ao horizonte. O pôr-do-sol do quiosque é um dos mais bonitos já vistos. Uma mistura de azul, laranja, amarelo e róseo. Enquanto a noite vai chegando, escurecendo o céu, o quiosque continua dinamicamente estático. Parado em meio ao movimento diário, frenético, que o circunda.
domingo, 9 de setembro de 2007
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8 comentários:
adorei!
sem mais.
:)
Helane,
Foi engraçado minha relação com seu texto porque ia lendo imaginando as pessoas que podiam tê-lo escrito.(Você não identificou lá em cima). Imaginei logo que seria seu, acho que pelo lugar... você foi descrevendo e eu imaginava você sentada em uma dessas mesas anotando tudo que via e tomando uma boa cervejinha gelada...hehehe!!!
Adorei o texto, está bem descritivo e não está monótono...
me senti ali observando tudo que você descrevia cheguei a quase sentir o cheiro da maresia...
está ótimo!!!
Imaginei você nesse lugar observando tudo isso. Sua descrição foi muito bem elaborada.Adorei!!!
Lane, amei, bem sua cara. beijocas
Gostei da descrição que a Helane faz do Quiosque. Os detalhes da descrição fizeram a graça do texto.
muito bom, ótima dose de descrições dos aspectos físicos e sensações.
Eu conheço tudo isso gente! Que sortudo! Que saudade!
PS: Parabéns à autora, peça maravilhosa. Já mostrou ao Carlinhos? Aposto que ele chorou. :)
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