quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Articulista do amanhã

Andréa Silva
Sala de aula da Universidade, lâmpadas frias iluminam o ambiente acadêmico. A temperatura, condicionada por um equipamento de refrigeração, em nada lembra o clima quente do lado de fora, mesmo com a ventania dos últimos dias. No laboratório de informática, um jovem estudante, concentrado e sério, ocupa a fileira da frente. Os óculos de grau talvez expliquem a preferência pela primeira fila. Quanto mais perto do quadro melhor os olhos azuis enxergam as anotações feitas pelo professor. O estudante Pedro Levindo costuma confiar na sua própria memória, mas o senso de organização exige que tudo fique registrado na folha pautada e alva do inseparável caderno.

Pedro divide o tempo de duração da aula, entre anotações e um "trincar" incessante e rápido no computador. À máquina ele revela seus conhecimentos, suas idéias e a admirável intimidade com as palavras. Aos 25 anos, o estudante escolheu o curso de Jornalismo por causa do fascínio pela escrita. Muito antes dos primeiros desafios da profissão, o futuro jornalista se mostra observador, qualidade que nem todo profissional já habilitado tem. O jovem estudante até foi capaz de satisfazer a minha curiosidade descrita sem palavras, apenas com um franzir de testa.

“Sei o que você está pensando”, disse Peu, como é carinhosamente chamado pela turma do terceiro semestre de jornalismo da FSBA (Faculdade Social da Bahia), “mas não foi por influência familiar que escolhi a carreira”. “Gosto de notícia, leio desde pequeno e estou sempre escrevendo alguma coisa”, completou.

Nascido numa família de classe média, filho de engenheiros civis que se tornaram empresários, Pedro sempre teve facilidade de acesso à leitura. Descobriu muito cedo o gosto pela literatura e elegeu como clássicos preferidos, Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, e os livros de
F. Scott Fitzgerald, um autor americano que poucos brasileiros conhecem. “Porque este autor americano?” pergunto. “Não há uma explicação, apenas tenho uma admiração especial por alguns livros dele”, responde.

O escritor Truman Capote também está entre os autores preferidos do futuro jornalista. A Sangue Frio, livro-reportagem sobre a morte de quatro pessoas de uma família americana, assassinadas por dois homens, é o que ele está lendo há cerca de um mês. A história, real, publicada pela primeira vez há quase quarenta anos, foi escolhida pelo universitário para um estudo aprofundado sobre as técnicas do jornalismo literário. Lendo autores como Capote e outras obras-primas da grande reportagem, Pedro desenvolve uma nova linguagem e armazena elementos que dentro de 3 a 4 anos irão se transformar em suas ferramentas para escrever. O articulista do amanhã vai trazer, em páginas e mais páginas, sua visão do mundo em defesa de alguém ou alguma coisa, seus valores, num estilo próprio de escrever, com nome e sobre nome: Pedro Levindo.

2 comentários:

Leandro Colling disse...

Texto muito bom, mas quase não tem descrição.

Peo Levindo disse...

Gostei muito do texto Dea, obrigado pela deferência! E apenas uma correção: meus olhos são verdes, não azuis!