terça-feira, 18 de setembro de 2007

Ahhh, Caraíva!!!

Verena Cerqueira

Era uma tarde de julho. O dia estava lindo, podia-se sentir o sol queimando a pele. Estávamos em uma Sprinter, rumo a Dunas de Itaúnas, cidadezinha no litoral do Espírito Santo. Porém, resolvemos passar em Caraíva antes, cidade localizada em Porto Seguro, que, além de ser famosa por sua beleza, era conhecida pelo forró pé-de-serra também.

Após dez horas até Porto Seguro e mais três longas horas dando voltas pela estrada de barro, cercada de mato por todos os lados, finalmente avistava-se a pequena cidade. A excurssão era somente para Itaúnas, com isso, íamos somente passar por Caraíva, pois lá não tinha hotel, nem nada pago.

Ao avistarmos a placa “Bem vindos a Caraíva”, estacionamos e descemos da Sprinter. O carro teria que ficar naquele ponto, pois o único acesso à cidade era através de um lago, onde só podíamos atravessar em uma canoa. Já era noite quando caminhávamos em direção ao lago. O transporte custava R$ 2,50, pagamos e entramos na canoa. Cinco minutos e já estávamos do outro lado. Descemos e fomos conhecer a cidade.

Incrivelmente linda, sua beleza natural era incrível. Casinhas pequenas se espalhavam por toda a cidade, cada uma de uma cor. Não existia prédio, shopping, clínica, nada. Todas as ruas eram de barro. Apesar de ser conhecida como uma cidade, parecia mais uma vila. Podia-se dar uma volta pelo local em uma hora.

Paramos e fomos logo para uma padaria, a única que existia lá. Morrendo de fome, pedi um café e um misto, ao custo total de R$ 1,50. Quando estávamos todos sentados na mesa, conversando e comendo, de repente, tudo se apaga. Saímos da padaria na esperança de encontrar luz, mas nada. Alguns segundos depois, o dono da padaria avisara que às dez horas a energia de toda Caraíva era desligada. Somente as casas que possuíssem gerador tinham energia. Pensei, “meu Deus, esse lugar fora esquecido pelo mundo”. Logo depois, percebi que esse era o charme do lugar. Os restaurantes eram iluminados por luz de velas, assim como o restante da cidade.

Saímos da padaria e, sem enxergar muito bem, fomos em direção à praia. Caraíva contém a quinta praia mais bonita do Brasil, segundo a revista Veja: a Praia do Espelho. Porém, para chegar lá, é preciso andar um pouco e, como estava tudo escuro, preferimos não arriscar.

Passamos um tempo admirando a praia mais próxima. Sem nenhuma onda, parecia que a água não se mexia, o silêncio era tão grande que quase era possível ouvir o barulho dos peixes lá em baixo. De repente, ouve-se um som. A cidade era tão silenciosa à noite que se podia ouvir o barulho dos mosquitos. Seguimos em direção da música e logo reconheci a voz de um amigo nosso que tocava MPB e tinha uma banda de forró em Salvador.

Chegamos a uma pizzaria. Toda feita de madeira e iluminada por velas e candeeiros, tinha vista para o mar. Nem era preciso aquela quantidade de velas, pois o céu estava tão cheio de estrelas que iluminava o ambiente. No pequeno palco “Trio Cabelêra” fazia o forrózinho. A pizzaria estava cheia, dava pra ver que só tinha turista, até porque os moradores da vila eram quase todos pescadores.

Escolhemos uma mesa. Os bancos eram feitos de troncos de árvores e apreciamos a vista e o forró que rolava. Olhei no relógio, quase uma hora da manhã, o forró de verdade estava pra começar. Havia somente uma casa de show em que só tocava forró, todo final de semana. Quando chegamos na porta, compramos nossos ingressos e ficamos aguardando. Gente ia aparecendo de todos os lugares. “De onde veio todo esse povo?”, foi meu primeiro pensamento. Em pouco tempo a rua estava lotada de gente.

Estava ansiosa para entrar. Todos falavam do forró de Caraíva e eu, como professora de forró, não via a hora de averiguar. Umas duas horas da manhã e todos começaram a entrar. Já estava morta de cansada, a viagem havia sido muito cansativa, e não tomava banho a mais de 24 horas, fora que ainda estava naqueles dias. Duas amigas minhas não agüentaram e voltaram pro carro pra dormir, mas eu não podia perder a oportunidade de conhecer. Deixei o cansaço de lado e entrei na casa noturna.

Era o ambiente mais “roots” que já havia visto. Impossível melhor lugar para se dançar forró. Todo fechado e não muito grande, era enfeitado com candeeiros e coisas de madeira. Um pequeno bar e dois banheiros ficavam do lado esquerdo e, na frente, o palco. O forró já estava começando e eu, bem na frente, dançava sozinha. Não demorou dois minutos e um garoto me chamou pra dançar. Quando olhei, tinha certeza que era nativo, sua roupa e seu jeito não negavam. Fui meio insegura, “será que esse menino sabe dançar?”. A resposta veio em seguida, logo estava girando para todos os lados.

Daí em diante não parei um segundo. Terminava de dançar com um e já tinha outro do lado me chamando. Incrível como todo mundo sabia dançar ali. A noite passou tão rápido que, quando o forró acabou e saímos da casa de show, o sol rachava lá fora. Eram 8h da manhã. Acabada e quase sem forças, voltamos em direção a Sprinter, rumo a Itaúnas. Esse foi um dia inesquecível, um lugar que não existe.

Um comentário:

Leandro Colling disse...

Texto bom, leva o leitor junto na experiência. Mas é preciso cuidar com uns deslizes que empobrecem o texto, tipo: "Incrivelmente linda, sua beleza natural era incrível."
E o sentamos na mesa???