sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Vasculhando o armário

Por Deny Nascimento



Lágrimas lavam meu rosto e limpam minha alma. Não sou louca e tão pouco passo por um momento de perda, entretanto, essas lágrimas também não são de felicidade. São 9h de uma sexta feira ,dia comum, dia comum para todos , mas para mim um dia inesquecível. Acordei cedo e resolvi mudar a minha rotina. Desliguei os celulares, coloquei uma camiseta velha e enorme que me faz sentir tão segura e tão acolhida como os braços de minha mãe. Sentei , pensei, pensei e percebi que precisava organizar a minha vida. Precisava voltar a ser responsável com os estudos, ser mais companheira dos meus amigos e principalmente: ser fiel a minha liberdade. Refletir que deveria fazer tudo isso foi fácil, porém tornar meus pensamentos realidade com certeza daria muito trabalho. Mesmo assim, contrariada pela normalidade do comodismo, saltei da cama resolvi começar a transformação.
Mas começar por onde? Fui tão desleixada, que minha vida está uma bagunça total. Pensei em ligar para meus amigos ,que por conta da rotina pesada do trabalho eu havia me afastado, afinal, com a ajuda deles, concretizar essa minha metamorfose seria muito mais fácil. Peguei o telefone comecei a discar 3... 3... 8... 4...NÃO ! vou fazer melhor, escreverei cartas pedindo desculpas, como nos velhos tempos. Mas onde estão meus papeis de carta? Hum.... no armário! Abri o bendito armário... estava tão arrumadinho, que 70% das coisas que estavam lá caíram nos meus pés. Era um problema a mais para eu resolver mas ... é a vida.
Sentei no chão catei os papeis e as cartinhas começaram a me chamar a atenção . Comecei a lê-las, uma por uma e a emoção tomava conta de mim. Cartinha de desculpas , de declarações de amor, amizade, rascunhos de cartas para namorado, papeizinhos eu eram trocados no meu das aulas.Eram tantas coisas de uma pessoa tão deferente do que eu sou hoje. Eu sei que transformações fazem parte de nos , mas eu mudei tanto, e em relação aos meus sentimentos, não foi para melhor. Naquela época eu não sofria dos males de hoje, não tinha vergonha de dizer eu te amo, de passar uma tarde inteira papeando e muito menos de fazer o que meu coração pedia. Agora eu sou o inicio do que eu sempre jurei que não seria: uma adulta manipulada pelo sistema.
Chorei muito ao ler trechos de minhas antigas agendas, (não tão antigas assim, de dois três anos atrás), percebi que eu era uma assassina. Assassinei muitos sentimentos e o pior, fiz com que o que de melhor eu tinha, minha ingenuidade, fosse apagada de minha memória. Não consigo entender como pude me transformar desse jeito em tão pouco tempo. Não sei como pude abrir mão dos meus maiores tesouros... Era hora de mudar.
Peguei papel, caneta e repetindo o gesto que era natural a menina que fui a dois anos atrás, deitei-me de bruços no chão e comecei a escrever, as palavras já não eram tão ingênuas como as de antes, mas já havia valido a pena , meu coração já sentia algo. Era uma espécie de dor, medo, arrependimento, felicidade,amor e angustia, e foi e sentimento mais intenso e mais profundo que eu já senti.
O mundo lá fora já não me interessava mais, eu tinha que colocar meus sentimentos em forma de palavras. Passei minha tarde escrevendo ,e ressuscitando o meu eu em mim.
“ ... amiga querida, sei que há muito tempo eu não demonstro o amor que sinto por você. Sei também que tenho sido incapaz de te ligar no meio da madrugada só pra saber se deu certo o seu plano de conquista ... muita coisa mudou. Mas hoje eu resolvi resgatar os meus tesouros, estou fazendo reviver o meu velho eu ... amiga eu te amo.
... sei que talvez o meu resgate de mim mesma não seja o suficiente para que eu acumule forças e a entregue um dia essa carta ... não importam os fins mas os meios dessa minha transformação já valeram a pena."


O dia se passou, escrevi muitas outras cartas. Resta- me agora o amanhã que me dirá se a minha volta ao passado valeu a pena.

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