quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Quatro de outubro de 2002

Emerson Cunha
17h50, o sinal da escola toca. Toda sala da oitava série do Instituto Social Objetivo desce para o pátio. O colégio, bem pequeno, com apenas uma turma para casa série abrigava uma quantidade significativa de alunos desta sala. Alguns vão logo embora para suas casas, cansados de tanta aula, outros esperam seus responsáveis ou transportes escolares para levá-los, mas a maioria permanece na escola fazendo de tudo um pouco. Jogando bola, batendo papo, estudando ou simplesmente não fazendo nada. Mas dois alunos, Emerson Cunha e Izabel Carvalho, acabariam por ter um dia que mudaria as suas respectivas vidas.

Ele, um tipo moreno alto e magro, de cabelos crespos, óculos de grau, que sem eles não faria absolutamente nada, com apenas 15 anos vividos, mal sabia das coisas da vida. Garoto tímido e que fazia questão de ser discreto por onde passava, pouco sabia das mulheres e do que elas queriam, e não tinha noção de como aquele dia acabaria. Mas estava decidido em tentar, pela última vez, conquistar aquela garota que tanto desejava nas últimas semanas. Havia tentado outras vezes, sem sucesso, mas não queria deixar de lado algo que o consumia já há um tempo.

Ela, uma guria de pele branca, de estatura baixa, cabelos levemente ondulados, com um rosto angelical e bastante jovem, com apenas 14 anos de vida, assim como Emerson não tinha muita experiência de vida amorosa, mas, certamente, tinha mais do que ele.

Os dois, com as suas fardas cinza e calça jeans estavam sentados no banco mais escondido do colégio, próximo ao bebedouro, aonde ninguém sequer se aproximava. Olhando para o chão, envergonhados, nenhum dos dois haviam falado uma palavra sequer, até que ela:

- Diga o que você queria falar comigo...

- Não era nada demais - disse ele -. Queria conversar contigo sobre nós dois.

- Com relação a que? rebateu ela.

- Sobre tudo aquilo que eu te disse naquele outro dia. Com relação ao fato de que eu gosto de ti. Queria saber como que fica nossa situação.

Seu rosto branco, rapidamente ficou avermelhado de vergonha. Costumava ficar deste jeito sempre que ouvia coisas do tipo. Mas sem perder a compostura, disse-lhe:

- A gente pode até ficar, mas não aqui na escola, com todo mundo vendo.

Emerson já esperava ouvir algo do tipo, caso sua investida desse certo e já tinha pensado numa alternativa. A casa de seu melhor amigo que ficava próxima da escola. Seria o local ideal para aquela ocasião.

- Eu sei. Tem algum problema de irmos para casa de Jaime?

Ela relutou um pouco antes de dizer que não tinha problema algum. Pensou duas vezes, mas não vendo alternativa melhor, acabou aceitando a proposta e partiram os dois rumo a escadaria do edifício Maria Lúcia, na rua Santa Maria Gorethe. Era um prédio comum, de cor cinza, três andares e uma garagem bastante espaçosa que, nesta hora, começava a encher de carros com seus donos voltando para suas casas. Por isso, os dois ficaram na parte da escada que ligava o subsolo e a garagem, onde haviam dois apartamentos com portas marrom logo acima dos dois.

Assim que chegou ao local, ela se sentou, decepcionando as expectativas dele. Assim que chegasse ao local ideal, ele a agarraria e daria o melhor beijo que ela já tinha recebido. Achou que ela tinha desistido. Respirou fundo, ergueu suas duas mãos com pulseiras de bolinhas com símbolos japoneses para levantá-la e, assim que terminou, deu-lhe o melhor beijo de toda a sua vida.

- Achei que isso nunca fosse acontecer - disse ele com uma voz calma e baixa.

Novamente com o rosto avermelhado, Izabel não respondeu nada. Não precisava dizer coisa alguma num momento como aquele. Continuaram por mais algumas horas por ali, conversando, sendo interrompidos e, principalmente, construindo a base de um relacionamento que dura há quase cinco anos.

5 comentários:

Unknown disse...

Que lindoooo!!!!!!!
Não consegui parar de ler o texto um só minuto!
Muito bom mesmo!

Unknown disse...

Concordo com você Driely. Lindo mesmo assim como o meu amor( o autor) e tudo que ele faz.
Emerson,Adorei. Você me fez voltar quase cinco anos no tempo, há um velho e ótimo tempo o qual eu morro de sudades e agradeço por que ele existiu e, pricipalmente por que eu fiz parte dele ao lado de pessoas únicas.

Helane Aragão disse...

Este texto deveria vir acompnhado de um:" Não leia no período de TPM!"... Estou surpresa com a qualidade e quantidade de sensibilidade que você conseguiu transmitir em palavras. Parabéns!

Alice Coelho disse...

Gostei do seu texto Emerson. A história e muito legal. Surpreendeu.

Emerson Cunha disse...

Muito obrigado meninas pelos elogios! Aprecio que vocês tenham gostado, mas tá faltando o comentário mais importante aqui: O do professor! Espero que ele comente aqui, e principalmente que goste!