quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Plano de saída

Alice Coelho

Era uma quarta-feira normal. Um dia de sol, sem uma nuvem no céu. Devem pensar que sou maluca pois, apesar do dia lindo, levo um casaco comigo. Faça chuva ou faça sol, ele está sempre comigo. É para não passar frio com o ar condicionado do trabalho e da faculdade.

Saio mais cedo do que o habitual para fazer alguns exames. Pensei que ia ser rápido. Exames de sangue e uma bobagem de raio X. Engano meu. Mal sabia do que me aguardava naquela clínica.

O estresse começa logo na chegada. Desci no ponto errado e tive que andar à beça. Até aí tudo bem. Depois de uns dez minutos, vi a plaquinha verde que indicava a clínica. É uma espécie de emergência, laboratório e clínica conjugados. Empurro a porta de vidro fumê e vou direto ao laboratório. Acostumada com o plano antigo, penso que não preciso de nenhuma autorização.

- A senhora tem que pegar autorização aqui ao lado – diz a atendente do laboratório.

- Mas são só exames de sangue – respondo.

- Mas o procedimento é esse senhora.

Aquela observação me irrita. “É o procedimento”, é só isso que eles sabem dizer. Contrariada, dirijo-me à sala ao lado. É uma saleta que tem mil cadeirinhas e três biombos de atendimento. Sem perceber que é preciso pegar senha, procuro logo a atendente.

- A senha senhora - diz a criatura que parece não estar de bom humor.

Sem responder, pego a dita senha e ponho na mesa. “Se ela não está de bom humor, eu também não”, pensei. Enquanto masca um chiclete, a atendente olha minhas requisições.

- É impossível autorizar senhora.

- Mas porquê?

- O médico não é credenciado do plano.

- Mas é uma requisição querida – repliquei.

- O sistema não aceita.
- Isso é um absurdo – disse, aumentando o tom da voz. Pago a consulta para ter atendimento mais rápido e agora você me diz que eu não posso fazer os exames porque as requisições não são de um médico credenciado?

- Só posso fazer se a gerente autorizar – diz ela.

- E quem é ela? - digo, estufando o peito e já com a garganta seca de raiva.

- Claudiane.

- E onde ela está agora?

- No 2º andar senhora – diz a figura com uma certa ironia.

Saio soltando fogo pelas ventas em direção ao elevador. Para variar, a tal gerente não tinha chegado ainda. Sento e fico balançando as pernas. A vontade que eu tinha era de falar, falar, falar. Aproveito o senhor que está ao lado e solto o verbo. No diálogo, descubro que ele também espera pela Claudiane. Mais uns dez minutos e ela chega.

Depois de muito blá, blá, blá, ela resolve me mandar para uma médica que está na clínica. Nada mais do que sentar na cadeira e esperar que ela preencha as requisições.

Com as abençoadas em mão, lá vou eu para a atendente do térreo. Deixei que meu sorriso malicioso falasse por mim enquanto entregava o documento. “Viu querida, eu consegui”, pensei comigo. Estranho como determinadas pessoas e situações conseguem mudar a gente. Não sou cínica e muito menos irônica, mas aquela moça havia despertado em mim sentimentos que não admiro. Podia ter tido um “treco” da raiva que passei.

Agora que tudo passou, penso se vale à pena todo esse estresse. Mas também acho que nada seria resolvido se fosse diferente. Vai saber. Homens modernos. Problemas modernos.

3 comentários:

Unknown disse...

Gostei muito do seu texto. No momento que vc diz que abriu a porta da clínica, me senti lá!!!Agora...que estresse viu!!

Alice Coelho disse...

Foi muito estressante mesmo. Rs.

Karina Oliveira disse...

Gostei do texto. Mas, não sei s fico com pena de vc ou da guria,pois quando vc fica brava é terrivel.