sexta-feira, 21 de setembro de 2007

O diferente de 20 e poucos anos.
Carlos Costa


As vezes me pergunto porque sou tão diferente. Porque não gosto das mesmas coisas que os outros da minha idade gostam? Afinal os 20 e poucos anos de uma pessoa é a fase mais áurea de sua vida, de um modo geral. As pessoas dizem que não me falta nada, mas com certeza me falta muita coisa. Sei disso. Gostaria de me comportar como o Marcos o cara mais famoso da empresa em que eu trabalho. Ele sim tem seus 20 e poucos anos e sabe bem aproveitar. Têm namoradas, é bastante comunicativo, vai à balada, bebe, enfim tem muita lábia. As pessoas olham para ele e sempre diz você é o cara.
Ah, eu também sou comunicativo, na medida do possível, vou à balada, não todo o fim de semana, não tenho namorada e não bebo. Então as pessoas dizem “Ah não, o Caio é diferente.” Por que? Só por que sou quieto e só falo quando me perguntam? E quando falo todos olham como se eu fosse a voz da experiência? Sim sou elogiado, muito elogiado, mas sempre o elogio final tem de ser, ele é diferente. Falo sobre qualquer assunto que me perguntarem e me expresso muito bem. Mas ao me elogiarem me sinto mais velho, mais experiente e acabo sendo diferente.
Vejo outras pessoas que são diferentes, e o pior é que de tanto os outros falarem já me sinto o mais diferente. Paulinha é paraplégica, é minha colega de trabalho também, mas seu humor é têm uma espontaneidade tão grande, que o fato de ela está em uma cadeira de rodas, não abate ela nem um pouquinho. As pessoas não dizem que ela é diferente. Denis, outro colega de trabalho, é gay, fala de sua vida abertamente para os outros, leva até o namorado para o trabalho para apresentar para nós e também nunca ouvi ninguém dizer que ele é diferente. Virgínia adota um visual dos anos 80 até hoje, e olha que ela assim como eu e os outros também têm 20 e poucos anos. As vezes chego até a achar estranho vê-la com aqueles sapatos de salto com plataforma na frente lembrando a época de Dancin´ Days, como ela mesma fala. Mas enfim como os outros ela também não escuta o jargão que me circunda, o de ser diferente.
Sei que as pessoas não são iguais, mas eu não queria ser diferente ou talvez o que me incomode mais é ser o diferente. Sei lá, soa para mim muito estranho, como extra-terrestre ou sei lá o que. Já pensei em seguir o estilo diferente de ser de muita gente, mas acho que tenho medo de me tornar mais diferente ainda.

2 comentários:

maria ísis disse...

Carlos, gostei do teu texto! O tema é bem interessante, os exemplos são legais, as descrições e conexões que você faz são muito boas. A plataforma Dancin'Days, então, um arraso! Só acho que o texto precisa de um pouco de ritmo. O fluxo de consciência me parece uma forma mais desconexa de escrever, feito o jeito que a gente pensa mesmo.

Beijo!

Leandro Colling disse...

gostei muito do texto. e diga para este menino que ser diferente é massa!!!!