quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Volta ao jardim de infância

Lívia Melo

Turma de Publicidade e Propaganda, primeiro semestre de uma Faculdade qualquer. Amadurecidas pela idade e esquecidas de como era uma sala de aula, quatro moças se sentiam recém saídas de uma caverna e, ao mesmo tempo, em pleno jardim de infância. Com brincadeiras inocentes e muita vontade de aprender, a turma se dividia entre jovens e anciãs. O que fazer no meio de tanta gente capacitada no auge de sua adolescência? Jovens que tão cedo, com pouca idade, têm a oportunidade de ser alguém na vida? Como será acompanhar essa galera fervorosa cheia de gás?

Incapaz e com muito medo é o como se sentia Ivonete. Mesmo com tanta ânsia de aprender, estava ali pra se curar de uma profunda depressão, causada pela perda de sua cara metade. Quanto tempo fora, mãe de família, avó, aposentada, que loucura remeter-se a uma sala de aula, senhora distinta de cabelos grisalhos, sorriso espontâneo, uma simpatia.

Darlene, uma loira engraçada e falastrona, tinha olhos castanhos, baixinha e meio roliça, adorava imitar a maneira dos professores darem aula. Ah! Buscava há tanto tempo um diploma universitário, acompanhar o marido em qualquer de suas reuniões sem se colocar de escanteio por falta de assunto, parecia um sonho! Não ser vista mais como apenas mulher de fulano de tal e sim a publicitária Dona Darlene, como é maravilhoso! Com o marido professor muito bem empregado, fazendo sucesso por onde passa, e sem contar, no leque de amizades bastante ecléticas, queria ser vista pelo que ela representava de fato e não quem ela estava representando. Pra ela, ser uma comunicóloga era inexplicável, afinal, estava tendo um lugar perante a sociedade.

Silvia poderia ser comparada a quase uma Madre Tereza de Calcutá, se não fosse, no final de toda sua bondade, ser observada que a sardinha viria sempre pro seu lado. De quase tudo que falava, metade se desmanchava em choro. Foi eleita líder da sala, com seu jeitinho conseguia o que queria. Muitos sonhos teria realizado se não fosse o que faltava: ser mãe.

Imaginar dia e noite como seria seu rostinho, se seria ele ou ela? Pareceria com quem, mamãe ou papai? Com certeza mimaria muito! Eram os pensamentos de uma jovem com seus 33 anos e inestimável vontade do desejo de ser mãe. Enquanto esse encanto não chega, buscar uma carreira e dar asas à sua imaginação é o que fazia parte do mundo de Silvia.

Já Naza, policial nas horas vagas, tempo é o que lhe faltava, e feito uma menina, pregar peças em seus colegas e cantarolar entre um intervalo ou outro ajudava ela a esquecer metade de seus problemas. Como é suado se dividir em tantas pessoas ao mesmo tempo, ser dona de casa, trabalhar correndo atrás de bandido, tirar plantão, fazer trabalho de faculdade, dar atenção à família, mas não poderia se queixar, pois conseguiu fazer parte da concorrência no mercado de trabalho é bom pra alma. Naza se sentia em casa, mesmo sua vida sendo um tremendo corre-corre, ela estava acostumada, era uma pessoa elétrica.


Para Cassandra, tudo era mais fácil Conhecida carinhosamente pelos colegas como boca de afofo, era uma patricinha, no bom sentido, claro, família classe média, cargo de confiança e estudante dos melhores colégios. Tirava tudo de letra, a não ser o seu “Calcanhar de Aquiles”, as resenhas, das quais ela fugia como o diabo foge da cruz. Ela estava com a bola toda. Não se preocupava nem em época de prova, tudo estava na ponta da língua. Falastrona, para tudo tinha uma história. “Hora, veja só, todo mundo nesta sala gosta de falar muito e somente eu tenho boca de afofo, será que se comunicar demais é tão ruim assim? Não ter medo das reações que provoca nas pessoas, falar o que pensa e estar sempre em contato com tudo e todos?”. Sem se preocupar muito com as opiniões alheias, mandava ver e soltava o verbo.


As dificuldades foram muitas, porém todas tiraram de letra e, no final, fizeram daquele grupo de mulheres experientes, verdadeiras adolescentes em busca de um sonho que já não era mais distante: a independência e o posicionamento na sociedade em ter uma carreira promissora.

Um comentário:

Leandro Colling disse...

muito bom, consegue ver o mundo a partir delas, isso é fluxo