domingo, 16 de setembro de 2007

Mulheres por um dia

Danielí Nunes

Período de férias em ritmo de carnaval, a casa lotada com 35 pessoas em plena agitação e, às 7h, já se escutam os primeiros passos, alguns só acordam ao meio dia, mas eu não estou inclusa nesse grupo de preguiçosos. A primeira a se levantar é minha tia Conceição, com intuito em querer arrumar tudo e fazer a comida pra hora do almoço. Logo depois, eu e minha mãe nos levantamos dos colchões em que estávamos deitadas na sala e minha tia começa a mexer nas panelas e falar bem alto:

- Chega de dormir, tá na hora de acordar, o sol já apareceu.

- Esse povo só quer saber de dormir e achar comida pronta - diz minha mãe, que começa a conversar. - Conceição, cadê Jé e João?

- Acordaram cedo, comeram e foram na padaria comprar o pão, o carvão e o bendito do cigarro.

- Sabia, João me acordou só pra perguntar se tinha cigarro em casa.

Com todo esse fala-fala na cozinha, não tinha aquele que não acordasse, pois a casa é de telha e o que se fala em um canto se escuta no outro. Todo mundo começa a se arrumar pra curtir o dia. Os homens com suas sungas coloridas com largura “cinco dedos” e as mulheres com seus biquínis minúsculos pra se bronzear no sol de quase 40º graus.

- Mãe, tem gente buzinando na porta, eu acho que é meu pai. Abre lá - diz meu irmão.

- João chegou, me ajuda a abrir o portão aqui meu filho.

- Quando João sai do carro, começa a perguntar pelo caseiro: cadê Jorge pra cuidar da piscina?

- Ele deve estar se maquiando pra sair nas Donzelas - diz minha mãe.

- Ele também vai? - pergunta meu pai, dando risada como se tudo já estivesse combinado. - Vou ligar pra ele.

Quando menos se espera, toca a campanhia e lá vou eu, toda gaiata, correndo ver quem tocou. Quando abro a porta me deparo com Jorge, Léo, Tampinha, Luciano, Ian, Gardenal e mais cinco homens que não conhecia, todos vestidos de mulher. Não contive as minhas gargalhadas que foram escutadas por todo mundo. Deixei-os entrar e, a partir daí, já viu, começou a baixaria, eles ficaram perturbando os homens que estavam em casa até que todos se vestissem de mulher também.

As mulheres logo aderiram ao espírito da coisa e cada uma vestiu o seu par da maneira mais feminina possível. Como eu não podia ficar de fora, vesti o meu noivo e aproveitei pra fazer a maquiagem de todos eles. Quando já estavam prontos, foi a maior festa, mais de quinze homens vestidos de mulher saindo de uma casa, parecia até uma passeata gay. Pra completar, meu pai era o comandante da frota, com um lindo sutiã vermelho, uma saia floral bem curta que, quando o vento passava, levantava. Uma margarida de plástico amarrada na orelha dava o toque final na montagem.

Saindo de casa, os “homens” foram para o ponto de encontro, na praça principal de Jauá. A partir dali, a festa começou, com direito a fanfarra e muita cerveja. Todo esse ritual foi pra comemorar o Carnaval de 2007 no trio sem corda das Donzelas, que acontece há mais de 20 anos em Jauá. Todos os moradores e veranistas participam da festa. Como ninguém quer ficar de fora, eu e as outras mulheres acompanhamos nossos maridos ou namorados na festa que só terminou quando a noite chegou.

Mas, no dia seguinte, uma nova festa foi feita, afinal de contas era Carnaval!

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