terça-feira, 11 de setembro de 2007

A calma e a exuberância do verde

Pedro Levindo

Não se vê muito do terreno logo de início, pois apenas uma pequena parte dele é plana, e é justamente neste pedaço que fica a casa. À frente dela, parte do terreno é inclinada. Adornam esse pedaço algumas árvores, nenhuma delas em grande combinação uma com a outra, pois são todas de espécies diferentes. Três são os pinheiros, que já foram cinco, e três também são as palmeiras, que, juntamente com cinco pequenos coqueiros, dão um ar tropical ao jardim. Uma mangueira, plantada à revelia da dona da casa, destoa do resto e completa o cenário. Houve até tentativas de retirar a pobrezinha de lá, mas estas foram repetidamente rechaçadas, e da mesma forma despreocupada com que foi plantada, a mangueira foi crescendo, crescendo e ficou. Embora nada combine com nada, lugar é visualmente bastante harmonioso.

Ao lado dos coqueiros, a cerca que circunda a propriedade é coberta com diferentes espécies de graxas, bouganvilles e outras pequenas plantas floridas. Um pouco ao norte, ao lado do portão, duas pitangueiras voltam a apresentar o contraste entre as plantas ornamentais, digamos, e as frutíferas.

A mistura entre estas e as espécies não-frutíferas continua na parte menos visível – e mais exuberante - do jardim: os fundos da casa. Colada à parede dos fundos, uma parede com três espécies de flores tropicais. Vermelhas e laranjas, dão um colorido exótico ao ambiente. Cerca de quatro metros depois da construção terminar, começa um acentuado declive, chamado por todos simplesmente de “a ribanceira”. A ribanceira termina num pequena charco, cuja parte seca antigamente abrigava uma horta e uma plantação de bananeiras e figueiras, entre outras árvores de frutos. Contudo, após a colocação de uma cerca entre o charco e o final da ribanceira (para evitar a fuga dos três cachorros, hoje reduzidos a dois), o interesse em se criar algo lá embaixo foi se perdendo, até ser esquecido por completo. Hoje a área do charco, que seca nos meses mais quentes, é apenas um grande matagal, morada de sapos, cobras e outros bichos que, junto com algumas bananeiras, conseguiram sobreviver ao abandono.

A situação não é tão ruim na ribanceira em si. Não por esmero no cuidado da manutenção da grama ou no corte do mato, pois grama e mato não há mais ali. A área, antigamente ensolarada e livre, vive hoje sob a bela sombra das cinco mangueiras e três jambeiros que, antigamente pequenos, permitiam às plantas menores acesso a seu meio de sobrevivência: a luz do sol. Os moradores costumavam, quando pequenos, escorregar ladeira abaixo em caixas de papelão. Depois, cansados, sentavam-se no topo da ladeira, em meio ao rosa das flores de jambo caídas na primavera, e admirar, por cima das folhas verdes das pequenas mangueiras, toda a vastidão da área. Hoje, contudo, a beleza encontra-se na vastidão das árvores em si, gigantes verdes que, apesar das mudanças proporcionadas pelo tempo, continuam a perpassar as mesmas sensações de antes: profundas calma e admiração diante da extrema beleza contida no fino equilíbrio entre a exuberante mistura de cores, dentre elas reinando os infindáveis tons do mais puro verde.

Um comentário:

Leandro Colling disse...

Texto bom, não tem problemas gramaticais. Apenas sugiro colocar as sensações junto com as descrições, pois neste texto elas ficam apenas no final. Tb estou esperando textos mais radicais