domingo, 16 de setembro de 2007

Dia estranho

Midiã Santana

Ás 6:27 acordei desesperada, era o meu primeiro dia de estágio e já estava começando com o pé esquerdo. Como conseguiria chegar as 07:30 na Cidadela, sendo que moro no Iapi? Não sei como, mas levantei da cama, me joguei debaixo da água congelante do chuveiro, comi duas maças, e vesti a roupa, uma blusa de minha irmã de cor laranja e minha calça jeans de todo dia.
Depois penteei às pressas meu cabelo que mais parecia uma juba de leão, e arranquei mais fios do que desembaracei. Pronto, peguei uma carona no carro do meu pai, um Fiat Uno quatro portas da cor branca, na verdade já está quase amarelo de tão velhinho e encardido.
Desci do carro próximo ao ponto de ônibus, estava de salto alto, e andar de salto alto em uma calçada cheia de pedras é uma tortura. Peguei um ônibus Lapa, desci na Baixa de Quintas e peguei outro ônibus, um Pituba via ACM. Ainda tive que prestar atenção no ponto, pois não me lembrava direito do prédio referência, só lembro que era preto e vermelho, mas o nervosismo era tanto que já havia visto uns 20 prédios parecidos.
Quando desci do ônibus e consegui chegar à empresa, havia me atrasado 15 minuto, a primeira coisa que meu chefe me disse foi “boa tarde”. Mas depois soltou um largo sorriso que me acalmou. Ele é um senhor com cara de avô, não dá medo, tem cabelo branco, olho verde, barrigudo, usa óculos, é muito risonho, e ainda é menor que eu.
Após observar meu chefe conversar com os meninos que trabalham como programador e webdesigner, fui me adaptar com minha sala, que tem uma mesa cinza, um computador preto, e três cadeiras da cor laranja. Sim, cadeiras da cor laranja, na mesma tonalidade da minha blusa, era quase uma farda, só faltava a marca da empresa. Quando percebi a semelhança achei engraçado, porém cafona, e evitarei essa combinação futuramente.
Tudo foi um pouco estranho, eu a única mulher em uma empresa que só tinha homens. E era perceptível a hegemonia masculina naquele ambiente, o chão estava precisando de uma vassoura, cheio de pedacinhos de papel e sujeirinhas, o banheiro estava precisando de um banho, uma das salas tinha mais entulho do que materiais de trabalho.
O chão eu consegui melhorar e o banheiro, só Deus sabe o futuro.
Após ficar o dia todo na empresa, checando e-mails, fazendo ligações e atualizando o site, chegou o horário de ir embora. Me despedi do meu harém, e fui para o ponto pegar o ônibus.
Era noite, e eu tinha esquecido o meu óculos em casa. Começa o meu drama, não enxergo bem de dia, quem dirá a noite. Não enxergava o nome dos ônibus, quando conseguia ver, já estavam perto demais e passavam direto. Eu parecia uma velhinha no ponto apertando meus olhos para tentar ver alguma coisa, até que consegui pegar um Barra 2. E chegando na Ondina, ainda tive que andar por uma rua deserta, escura, cheia daquelas pedrinhas que incomodam muito pés que não estão acostumados com salto, para conseguir assistir a aula.

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