sábado, 15 de setembro de 2007

Problemas femininos

Helane Carine Aragão

Tatiana acordou deprimida e se sentia o pior ser do universo. Não conseguia ficar parada. Tudo lhe causava um nervosismo muito grande e sentia-se extremamente fogosa. Sentia-se como se ninguém a amasse, ninguém a queria. Olhou para a janela e começou a chorar porque estava chovendo. “Parece que todo mundo está prestando atenção em mim”, pensava para si enquanto se achava a criatura mais fútil do planeta. Começou a sentir raiva devido aos olhares e fazer grosserias era simples como respirar.

Ela ficou horas se perguntando o que havia feito de sua vida e programou todas as metas, até então não realizadas, para iniciá-las no dia seguinte, temendo não ter tempo para tudo. Não sentia vontade de trabalhar, de ir à academia, nem de conversar com ninguém. Entre o intervalo de tomar banho e sair de casa, brigou com a mãe, com a irmã, com a faxineira, com a “cretina” que ligou cedo oferecendo um novo produto da Telemar pelo telefone e com o cachorro do vizinho que latiu para ela, sem abanar o rabo.

Não conseguiu ver o telejornal matutino, nem entender o que metade dos e-mails queria dizer. Ela sentia-se fraca, cansada, sem energia até para xingar o motorista do ônibus que não parou no ponto e a ensopou com a água da poça de lama, pela qual passou por cima, ignorando-a. Não sentia fome. No café da manhã, virou o açucareiro, dentro da boca, e trocou a bela lasanha de molho bolonhesa servida no restaurante da empresa, por vários sonhos de valsa, enfiados de vez na garganta juntamente com os pés-de-moleque. Não conseguiu dormir e sentia muita insônia.

Não se reconhecia mais. Olhou para o espelho e viu outra pessoa com sua imagem. A pessoa era 20 quilos mais gorda e estava completamente desarrumada. Possuía olheiras que faziam-na parecer uma ursa panda. A barriga impedia a proximidade com a pia e a cara de bolacha assustava até o mosquito que tentava um ataque fulgás. Dentro de sua cabeça havia um trio elétrico realizando um encontro inusitado entre Chiclete com Banana, Timbalada e Asa de Águia e nenhum fiscal apareceu para realizar fiscalização sobre a altura do som.

O soutian pinicava o seio e a vontade era de arrancá-lo do corpo e jogá-los para bem longe. Os braços se sentiam pesados, assim como seu corpo inteiro que ia se arrastando sem saber para onde estava indo, quase curvado em cólicas, o que piorava as dores em sua coluna. Resolveu ir ao médico. “Preciso de uma droga bem forte que alivie meu sofrimento!”. A recepcionista era “o cão de calçolão” a sua espera e tornava tudo mais difícil. Por fim, o médico chamou-a e ela entrou no consultório.

- O senhor deveria instruir melhor a sua recepcionista, Doutor.
- O que houve?

- Não houve nada, por sorte o senhor me mandou entrar. Não gostei da forma com que ela me olhou! Ela me olhou com um sorrisinho cínico no canto da boca e me mandou entrar.

O médico balançou a cabeça, analisando as anotações.

- Então, é grave?

- Qual o período da sua última regra?

- A última chegou tem uns 25 dias. Acho que pode ser distúrbio bipolar, Doutor.

- Vou te receitar um calmante. Você deve ir para casa e evitar aborrecimentos.

- Não preciso de um raio-x de face? Pode ser um aneurisma. Ou um exame de sangue! Posso ter contraído uma virose mortal.

- Não, não. Você apenas tentará manter o controle sobre suas ações. Procure fazer refeições leves e saudáveis. Caminhe bastante e durma cedo. Se daqui a cinco dias você não se sentir melhor, você me procura novamente.

-O senhor tem certeza?

-Confie em mim.

Ela saiu do consultório mais aliviada. Ainda lhe restavam alguns dias de vida. No caminho, uma amiga ligou, chamando-a para tomar uns chopes. Recusou. “Estou sob orientação médica!”, explicou. “Vai que descobrem que eu tenho uma doença degenerativa e preciso ser internada às pressas para uma intervenção cirúrgica. Melhor não vacilar”, e desligou.

Passou pela frente da sorveteria preferida. Não resistiu. Entrou e comprou um dos bem grande, de coco com chocolate, com bastante cobertura de caramelo e castanha triturada por cima, além de vários daqueles biscoitinhos deliciosos enfiados ao redor. Perto de casa, passou na padaria e abasteceu as compras de petiscos para a noite, caso lhe faltasse sono outra vez. Na porta de casa, esbarrou com a vizinha, que proferiu a sentença de morte dela: “Tati, nunca mais eu te vi. Está mais gordinha, hein!”. Respirou fundo, deu um sorriso amarelo e entrou em casa. A vizinha enxerida escapou de receber uma “pet” de dois litros de Coca-Cola, ligth, na cabeça. Tatiana se jogou no sofá, com um pacote de batatas fritas, uma caixa de chocolate bis e uma bacia de pipocas.

Quase se afogou em lágrimas assistindo “Procurando Nemo”, até que pegou no sono, exausta. Acordou sua mãe, no meio da noite, devido a um palavrão proferido em voz alta. A mãe preocupada voou pelas escadas para ver o que havia acontecido.

- Esqueci de comprar absorvente!

5 comentários:

Leandro Colling disse...

muito bom, parabéns

Caty Neris disse...

hhahaha
muito divertido
mas não confio que 100% dele seja verdade...
assuma que rola uma ficção!!
:)

Caty Neris disse...

oce..eh arysa..
comentei com o login de minha irmã

Helane Aragão disse...

Não foi é ficção. Aconteceu mesmo quando eu comecei a ter TPM. Até então o máximo que eu sentia era uma colicazinha... Fiquei realmente desnorteada quando meu estado de humor começou a mudar muito. Isso aconteceu quando eu tinha de 20 para 21 anos...

Danielí Nunes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.