quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Sábado também é cotidiano.

O primeiro despertador, como de costume, tocou às 5h40, como também de costume desliguei-o para dormir “só mais um pouquinho”. Então, 20 minutos depois, chegou a vez do segundo e definitivo, aquele que costumo chamar de mãe, já que a minha, todas as noites, toma remédio para dormir por causa do tratamento que está fazendo para a síndrome do pânico. “Doença de rico, chata!”, ela costuma dizer.

Então, quando esse desperta às 6h, de segunda a sábado, de ímpeto levanto-me. Espreguicei-me, olhei para Mustafá, que dormia do lado dele da cama (é sempre o esquerdo), dei um beijo nele e disse:

- Bebê, mamãe ama muito você!

O ventilador continua ligado, pois meu gatinho não gosta de dormir sem o ventilador, não acho justo desligá-lo enquanto ele ainda dorme, até porquê quem tem obrigações ali para cumprir sou eu e não ele (aliás, nem podia, lembro-me nesse momento que ele é um animal). Acendi a luz, peguei a roupa que vou usar, sapatos, acessórios (essa é a parte mais complicada, pois acho que o que completa o meu figurino são os acessórios. E, diga-se de passagem, são umas das minhas “fúteis” paixões), maquiagem, desodorante, hidratante, creme para pentear os cabelos, escova, pente e olho a bolsinha que já tinha arrumado no dia anterior com a revista, uma série de textos que foi emprestado por uma amiga, meu pequeno caderno do banco Bradesco, que levo para onde for. Aí penso que esse caderno serve para todos os tipos de anotações, desde as aulas que assisto na faculdade, de prospecção dos clientes do meu trabalho e até mesmo para anotar as contas que tenho à pagar. Dou um leve sorriso e olho o relógio, já são 6h10, é hora de adiantar.

Vou ao banheiro para fazer as primeiras atividades que faço nele, escovar os dentes, lavar o rosto etc... Saio em direção à cozinha, antes passo na frente do espelho que fica na sala e olho meu rosto: “nossa, que cara de sono”, penso! Ao cruzar o corredor que divide a sala da cozinha e que tem, nas laterais, os quartos da casa, o meu, o da minha mãe e o que era do meu irmão, mas que agora transformou-se na suíte dos hóspedes. Acho um desaforo, minha mãe não deixou que eu trocasse de quarto. Poxa vida, o meu não tem banheiro, eu queria mesmo era ir pra lá. Na verdade, acho que ela tem esperanças que meu irmão volte para casa. Ela ainda não conseguiu aceitar que ele, há três meses, decidiu morar com a esposa e com o filho em um lugar onde tenham privacidade.

Alheia a esses pensamentos em frente ao quarto “dele”, que estava com a porta fechada, fui despertada com essa mesma porta abrindo. Era Júnior, um garoto de 18 anos, que é voluntário, junto com minha mãe, de uma instituição que trata crianças com câncer. Minha mãe tem Júnior como um garoto com quem ela pode contar para tudo. Júnior estava acordando para terminar de limpar o nosso terreno que fica ao lado casa. Ele olha para mim, diz bom dia e vai para o banheiro enquanto eu chego na cozinha para preparar meu café da manhã. Aliás, não gosto desse nome, café da manhã, acho limitado demais, pois não tomo café. Gostaria que o nome fosse suco da manhã, soa até melhor ao dizer.

Abri a porta do freezer e peguei uma polpa de cajá, preparei meu suco sempre com adoçante e, enquanto o liquidificador estava ligando, preparava duas fatias de pão integral com gergelim e queijo minas (gosto muito) e coloquei na sanduicheira. Fui na varanda cumprimentar meus três cachorros, com carinhos na cabeça, e perguntei a Júnior se ele queria tomar café. Ele respondeu que, naquele momento, não. Lembrei que o liquidificador ainda estava ligado, voltei para cozinha desliguei-o. Tirei meu sanduíche, coloquei em um pratinho, peguei o suco que já estava no meu copo cor laranja, que eu adoro, e sentei a mesa da copa. Liguei o rádio, que fica sintonizado na emissora que mais gosto, e comecei a tomar meu café, ou melhor, “suco da manhã”. Naquele instante tocou uma música da qual gosto bastante, chamada Lugares proibidos. Lembrei que, no fim de semana passado, fiquei com o rádio ligado o tempo todo esperando que ela tocasse, pois queria que Sheila (minha amiga) a ouvisse e, é claro, só porquê eu queria muito ela não tocou!

Terminei de comer às 6h25 e fui direto para o banheiro. É claro que não lavei a louça, pois as dorminhocas (minha mãe e irmã) estão em casa e, quando acordarem, vão fazer isso. No banho, levei vinte minutos, adoro tomar banho quente e, às vezes, acabo perdendo noção do tempo. Saí do banheiro e fui para meu quarto. Nessa hora Mustafá acordou, olhou para mim, bocejou e, é claro, começou a miar pedindo que eu lhe trouxesse a ração. Pensei: “que gato folgado”. Voltei para a copa, peguei o pratinho dele com desenhos de cachorrinhos, mas que ele adora, e levei para o quarto. Ele desceu da cama e foi comer enquanto eu começava a me vestir. Em 30 minutos estava pronta para sair de casa, mas não faço isso sem antes entrar no quarto da minha mãe e falar com ela, mesmo que ela não escute. Normalmente, quem responde é minha irmã, que dorme com ela desde que meus pais se separaram há quase sete anos.

Mustafá, mais uma vez, chama minha atenção, dentro do quarto da minha mãe, miando pedindo para que eu abra a porta do banheiro do quarto. Eu, lógico, abro, porque sei que ele vai beber água. Mustafá só toma água do chão do banheiro, não sei porque ele adquiriu essa mania bizarra. Deixei ele lá, fechei a porta do quarto, pois sei que ele vai voltar para a cama e dormir. Dessa vez, ele vai dormir entre minha mãe e minha irmã.

Abro o portão da sala que dá acesso a varanda e brigo com os cachorros, pois eles querem pular em mim. Despeço-me de Júnior e saio de casa às 7h15. Vou para o ponto de ônibus. No entanto, lembro que tenho que passar na casa de Silvia e deixar o alicate de unha que Sheila me emprestou. Quando já estava em frente a casa de Silvia liguei para o celular dela e mandei ela abrir a porta, coitada, eu a tirei da cama. Conversamos um pouco, acendi um cigarrinho e fui para o ponto de ônibus, já imaginando que estava atrasada e que provavelmente o ônibus passara. Começou a chover, pensei: “que droga, até no sábado São Pedro não libera” e ainda para piorar estava sem guarda-chuva, a sorte é que já estava chegando.

No ponto, dei bom dia a um senhor e perguntei se o campo grande já tinha passado, respondeu-me que sim. Não fiquei chateada porque achei que logo outro viria. Fiquei olhando para a praça que fica na frente, olhando os garis recolhendo o lixo de alguma festa inédita que teve lá ontem e que até o momento eu não sabia qual era. Olhei também a estátua de Vinicius de Moraes, dono daquela praça no farol de itapuã. Fui retirada dos meus pensamentos por Valdelice, uma vizinha com a qual não tenho muito contato, mas sempre que nos encontramos temos muito para conversar. Ficamos lá por volta de trinta minutos esperando nossos respectivos ônibus atrasados. Às 8h10 o meu passou, despedi-me dela e vim para a faculdade, pensando que o professor ia me “fuzilar” com os olhos quando eu chegasse.

Sentei-me na cadeira da frente, a que tem apenas um acento. Sei que ela é reservada para deficientes físicos e idosos, mas adoro ficar ali e quando vejo que ela está vazia e que as outras de preferência também estão vou direto para lá. Tirei os textos da bolsinha e comecei a ler alguns sobre jornalismo literário, depois peguei a minha Piauí e li uma matéria sobre um cachorrinho sadomasoquista, dei muita risada.

Quando percebi já estava no Rio Vermelho, guardei meu óculos na caixinha e coloquei a revista na bolsinha, estava perto da faculdade e quando peguei o celular na bolsa para ver as horas, pensei: “que chato, mas estou super atrasada”! Desci no ponto e vim em direção a faculdade, chegando encontrei a colega de Sala Isis, que também estava atrasada. Nos olhamos, demos risadas e comentamos do nosso atraso nos insentando da culpa de chegar atrasada sozinhas! Isis foi direto para a sala e eu passei na biblioteca. Quando entrei, com a maior “cara-de-pau” disse boa tarde, o professor riu e sentei-me no fundo da sala. Perguntei para Isis se ele reclamou com ela, a mesma disse que a cumprimentou com a minha frase. Olhei para o quadro e percebi que ele tinha passado atividades. Sentei-me em frente ao computador e começei a fazer a tividade, esperando o restante do dia pois, como estou falando de cotidiano não poderia esquecer que hoje é sábado e o mundo e os amigos lá foram com toda certeza me esperam...

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