domingo, 23 de setembro de 2007

Aniversário Secular

Alice Coelho

O domingo oscilava. Ora o sol se expunha, ora se escondia por trás das nuvens que passeavam pelo céu. Era uma data especial para a família Veloso. A matriarca Canô Veloso completava cem anos de vida.

O tempo parecia corresponder aos sentimentos de Dona Canô. Vestida toda de branco, óculos redondos e uma pequena bolsa branca nas mãos, aqueles olhos verdes expressavam felicidade e emoção.

- A senhora tá feliz? – pergunta uma das repórteres que lhe cercavam desde cedo.

- Eu não sei explicar. Eu não sei se é felicidade, se é alegria, se é tristeza. Sei que estou sentindo tudo de uma vez.

Os cabelos brancos e a pele enrugada de Dona Canô Veloso lhe dá o direito de não saber definir o que sentia. Apenas de viver.

Canô passou o dia cercada por repórteres, artistas, políticos e pessoas comuns da cidade de Santo Amaro da Imperatriz. O dia parece não cansar a aniversariante. Com disposição de invejar qualquer jovem de 20 anos, é acompanhada por três de seus quatro filhos, em direção à igreja matriz de Santo Amaro da Imperatriz, onde vai ser realizada missa em sua homenagem.

A igreja está lotada. Aquele espaço parece não ser suficiente para tanta gente. Em um ambiente de pouca e luz e pouca ventilação, é válido utilizar-se de qualquer coisa que faça vento, inclusive o folheto da missa.

A música escolhida para o momento da entrada de Dona Canô na igreja, é de autoria do filho Caetano. Grande parte das pessoas que lá estão, escolheram se vestir de branco. O branco que, em terras baianas, pode simbolizar a paz, Nosso Senhor do Bonfim ou até mesmo Oxalá.

A aniversariante parece não fazer distinção dos que ali estão e cumprimenta a todos a quem seu olhar alcança. A missa, celebrada pelo arcebispo Dom Geraldo Magela tem um momento especial. Emocionada, a mãe de Caetano e Bethania, recebe das mães do arcebispo uma imagem de Nossa Senhora Aparecida.

Populares e famosos tentam traduzir em gestos e palavras o que aquela senhora significa para a comunidade baiana. O Ministro da Cultura, Gilberto Gil, diz que ela é uma pessoa “Canonizada em vida”. Um grupo de menino cantores fazem uma homenagem singela: cantam uma música feita especialmente para ela.

Canô Velloso não é artista, mas é famosa. Embora pareça não compreender o porquê de tanta homenagem, os seus 100 anos significam para a comunidade de Santo Amaro muito mais do que um século de vida.

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