sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Sexta-feira

Helane Carine Aragão.

Bosta de fluxo de consciência! Saco. Bosta, bosta, bosta! Minha mãe me disse que estou com o palavreado muito chulo. Vivo falando saco. Não sei sobre quem escrever, nem sobre o que falar. Ontem fui a uma entrevista de trabalho.

Novo trabalho. O terceiro em dois meses. Fazer o quê? Estou assim, vulnerável. Quem me indicou foi Paloma. Joguei o valor do serviço lá para cima na esperança que ele me recusasse. Ledo engano.

Acordei cedo e fui. Terninho preto, cabelo preso, tudo dentro dos padrões daquelas baboseiras que te dizem como fazer e como agir numa entrevista de trabalho. Não acredito em nada disso, e sei que nem quem fala acredita. Se o entrevistador for com a sua cara, ótimo! Se não, reze para ser aceito na próxima oportunidade.

Então. O cara me deixou esperando cerca de uma hora. Quinta-feira, nem estava com vontade de trabalhar mesmo! Lá fiquei. Enfim, Paloma disse: “Ele mandou você entrar”. Entrei. Entrei e desandei a falar. Ele logo me perguntou se eu era arquivista. Pensei: “Meus pais estão me pagando a segunda faculdade para eu assumir que sou apenas arquivista, pelo amor de Deus!”, disse que não. Discorri sobre minha vida com tanta energia que o cara ficou pasmo, me olhando. Pela cabeça devia estar passando: “Dou logo o emprego a esta criatura e me livro deste falatório”.

Entrou um senhor gordo, muito gordo, sala à dentro. Estava cheio de processos nos braços. Enquanto o cara atendia a ligação ao telefone, o gordo puxou minha mão e a beijou. Eca! Quase vomitei. Era advogado, eu acho. Se não era, carregava consigo um broche da OAB. Perguntou meu nome, eu disse. Perguntou como eu estava, respondi que bem. Por educação, retribuí a pergunta. Ele disse que a manhã dele acabara de se tornar melhor. Nos olhos, vi uma chama de fogo, e ardia. Claro! Na “cabecinha” ele arquitetou um encontro sórdido comigo. “Eca!” De novo.

Enfim, o cara mandou eu fazer um orçamento. Como assim orçamento? Paloma tomou a frente e chutou o preço. Ele fez cara de paisagem. Claro! Ele pensou: “Diante daquela bagunça que ela vai enfrentar, por este valor que ela está pedindo, ainda saio no lucro”! Saí e fui no arquivo ver o que me aguardava. Otário. Ou melhor, otária, eu! Se eu houvesse cobrado o dobro, ele pagaria. Nada de assustar. Umas trinta caixas arquivos, previamente separadas, muito empoeiradas. Eu disse que começaria naquela mesma hora. Coloquei a bolsa no ombro e fui ao cinema. Doce ilusão achar que eu sujaria o meu terninho preto.

Na manhã seguinte, levantei-me e fui ao meu novo local de laboro. Trabalhei. Trabalhei mesmo! Até as três da tarde. Sem comer! E escutei um elogio e até um: “Parabéns!”. Fui embora. Cheguei à faculdade e sentei-me no boteco. Ao chegar, a esposa do proprietário me olhou e pensou: “Hoje é dia!”. Ela acertou. Pedi uma cerveja, outra e depois outra, sozinha. Hora de ir à aula. “Depois eu volto”, eu disse. E voltarei mesmo, com certeza. Afinal, hoje é sexta-feira...

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