segunda-feira, 17 de setembro de 2007

A despedida

Daphne Carrera


No carro, o silêncio permanecia. A idéia de me despedir de meu primo já me deixava deprimida. E acho que a ele também, pois não trocamos nenhuma palavra durante todo o percurso até o aeroporto de Guarulhos. Meu tio estava ao volante, com seu semblante sempre sério e aqueles cabelos brancos que só ajudavam a denunciar isso. Falou de maneira firme pra meu primo, quando parou o carro na área de embarque da Tam:

- Você vai acompanhar sua prima no check in e levá-la até o embarque. Entendeu Rafael?
- Sim, meu pai. Já sei - retrucou de maneira agressiva.

Rafael, por trás da couraça de bad boy com roupas descoladas e cabelo desgrenhado, é um menino atencioso e carinhoso. Mas ai de quem falar isso.

Já com a voz mais serena, meu tio se virou para mim:

- Dá, foi maravilhoso ter você aqui conosco. Mande um enorme abraço pro Kadinha (apelido estranho pelo qual meu tio se remete a meu pai) e volte sempre que quiser.
- Pode deixar tio. Obrigada por tudo.

Nos abraçamos e, quando saí do carro, Rafael já me esperava com minha mala. Fomos caminhando para dentro daquele aeroporto frio e cinza, nos dirigindo até a área reservada para o check in da Tam, separada por faixas vermelhas. A fila estava um pouco grande, dava tempo para uma última conversa.

- Rafa, você faria uma coisa se eu te pedisse?
- Que é heim? Já fiz tudo por você esses dias – falou, em tom de brincadeira.
- Eu sei besta, mas não é algo por mim. É pela sua irmã. Tenta ser mais compreensível, ela ainda é uma criança e você não se cansa de brigar com ela. Não se mete nos assuntos dela, deixa meus tios resolverem isso.
- Eu não acredito Daphne. Eu realmente não acredito, todos esses dias eu fiz o impossível para tentar fazer você se divertir, te levar para lugares legais e você sempre me criticando. Até na hora da gente se despedir, você fica jogando na minha cara que eu não estou sendo um bom irmão pra Bianca?

Nessa hora meus olhos já estavam marejados, percebi que tinha sido muito rude com ele. Passamos dias maravilhosos juntos, na hora da despedida, tão horrível hora da despedida, palavras ditas de forma errada e os dois magoados.
Trocamos olhares, tentamos até um abraço. Mas ele não estava carregado de carinho como de costume e sim de decepção. A iniciativa partiu de mim:

- Tchau! – frio, seco.
- Você vai mesmo assim, sem me dar um abraço de verdade? – Rafael me questionou.

Só consegui balançar a cabeça, fazendo que sim.
Cada um seguiu o seu caminho. Não tive coragem de olhar para trás e fingi estar entretida com o cardápio de uma casa de pães de queijo. Quando na verdade nem sabia o que tinha escrito nele. Bateu um aperto forte no coração, um nó na garganta. Olhei para o lado com a expectativa de encontrá-lo. Nada! Numa atitude impulsiva, saí do saguão e fui até o local onde meu tio tinha estacionado. A única coisa que encontrei foi uma vaga absolutamente vazia.

Nos 50 minutos que se seguiram, antes do embarque, olhava por todos os lados na esperança de encontrá-lo. Na esperança que ele houvesse feito uma surpresa e voltado para me dar um grande e confortante abraço. – Acorda Daphne! Você não está em um filme (disse a mim mesma).

Embarquei e sentei na minha poltrona. Enquanto o avião ia decolando, deixava para trás toda a possibilidade de abraçar meu primo novamente.

Um comentário:

Daphne Carrera disse...

Muito bom, mas não tem desfecho.

Leandro, o malvado