Karina Oliveira
Chega o dia tão esperado. Show de Ivete Sangalo no Festival de Verão Salvador 2007. No começo do dia, a expectativa toma conta de mim. Não conseguia pensar em nada mais além dos preparativos para o evento. Liguei para minha amiga Thais, com quem ia para o show, e começamos a combinar como seria nossa estratégia.
- E ai Thai, aonde vamos nos encontrar?
- Pode ser na entrada do Parque de exposições.
- Então fica marcado, às 19h.
Só deu tempo de desligar o telefone, pegar a bolsa e sair. Pois ainda não tinha comprado nada para usar no dia tão especial. E a noite prometia muita música, bebida, agitação e, é claro, o público masculino, que era o nosso alvo. No shopping center, foi uma corrida contra o tempo para encontrar algo que me agradasse. Vesti, olhei, tirei, botei até que achei a combinação perfeita: blusa preta com um insinuante decote nas costas, do tipo mostrar para despertar, calça jeans skine e uma sapatilha cor caramelo. Fui correndo para casa, pois tinha que me arrumar.
Já de banho tomado e me achando, lá fui eu para pegar o buzú. Dentro do ônibus, ligo para minha amiga. Falo rápido para economizar os créditos.
- Thai, você tá onde?
- Já tô chegando, e você?
-Ainda tô longe, mas tô chegando.
Depois de um longo percurso, chego ao local onde seria realizado o show e percebo que ela não estava no lugar combinado. Desesperada e com medo que os créditos acabassem, liguei para ela de novo.
- Cadê você?
- Tô aqui dentro, vem me encontrar.
Desligo rapidamente e vou ao seu encontro. Não demora muito e eis que surge Tatai, como a chamo carinhosamente, com uma blusa marrom, calça jeans e sandália preta de salto alto e fino. Sorriu, deu um gostoso abraço e me puxou para frente, na direção do palco. Ficamos conversando e observando o ambiente até que nossas vozes foram abafadas por um barulho de uma sirene. Parecia que estava ocorrendo uma rebelião em algum presídio, mas, na verdade, era o aviso do começo do show.
Depois de certo tempo de espera, começa o grande show da noite. Apagam-se as luzes do palco e aquela irritante sirene dá o ar de sua graça. De repente, surge Ivete Sangalo com vestido branco e detalhes em prata (não tenho muita certeza) e um chapéu combinado com o vestido também branco. A multidão vai ao delírio.
Não tinha lugar para mais ninguém. Ela começa o evento cantando seus sucessos e parecia reger o público. Num determinado momento do show (isso eu me lembro muito bem), a cantora "puxou", à capela, a música Poeira. Mal sabia eu que o meu fim estava próximo.
-"Poeiraaa, poeiraaa, poeiraaa.... levantou poeira".
Logo em seguida gritou:
- Atenção Salvador! Eu quero ver todos vocês levantando poeira.
Para o meu azar e de minha bronquite, a poeira subiu. Naquele instante, comecei a passar mal. Não conseguia respirar direito, foi ficando tudo escuro e comecei a sentir uma sensação de desmaio. Na mesma hora falei com minha amiga:
- Thai, não tô bem.
- Ah Kal! Páre com isso!
- Velho, eu não tô bem, é serio!
Quando minha amiga me viu encostada na armação feita para abrigar os policiais da tropa de choque, percebeu que era sério. Rapidamente, me segurou e disse:
- Kal, levanta a cabeça e tenta respirar.
- Não tô conseguindo!
Percebendo o meu estado, pediu aos policias que abrissem passagem para me levar ao posto de saúde, montado próximo a área de show. Antes de isso acontecer, um dos policias solicitados teve a "brilhante" idéia de me molhar. Não sei em que isso me ajudaria, mas ele fez. Pegou um cantil e danou a jogar água em mim. Na hora fiquei tão brava que falei:
- Não, não me molhe caralho!
Minha amiga, que estava super nervosa com situação, tentava me acalmar:
- Kal, é para seu bem!
Percebendo que sua estratégia super avançada não daria certo, falou com os outros policias para abrir caminho. Naquele momento em que ia sendo "escoltada" pelos policias, pensei: será que me arrumei toda para isso? Não quero crer!
Em pouco tempo, o problema havia sido resolvido. Depois de um pouco de ar (pois na área do show estava muito abafado devido à concentração das pessoas) e uma umburosca, voltamos para assistir o próximo show: Asa de Águia, antes que a maldita sirene soasse novamente, a galera havia invadido o espaço do show. Restou apenas ficar na escada com minha amiga, só ouvindo. Aquela situação não agradou a nenhuma das duas. Então, fomos dar uma volta e ver o que tinha de interessante.
Depois de umas duzentas voltas, eu e Thais nos deparamos com o seguinte quadro. Naquele show existiam dois tipos de homens: os interessantes e acompanhados e os adolescentes desinteressantes. Mas, não nos abatemos. Procuramos até que a sem noção da Thais "achou" um lugar interessante.
- Kal, é ali.
- É ali o quê?
- É ali que vamos nos dar bem.
- Na tenda onde esta tocando pagode?
- É. Lá deve ter algum pagodeiro gatinho.
Meio descrente e já desesperada, pois a minha tão sonhada noite estava sendo um fiasco, resolvi ir. Já estou aqui, né? Pior do que está não podia ficar. Mas não é que ficou? Chegando à maldita tenda, onde ao fundo ouvia-se um insuportável pagode tocado pela Banda Raga alguma coisa, surge um desses meninos mais conhecidos como pagodeiros. Corpo sarado (até demais para meu gosto), tatuagem no braço e mente vazia (não é pré-conceito, pude comprovar no decorrer da conversa, que mais parecia um monólogo). Só ele falava, enquanto eu balançava a cabeça. A cena durou uns 15 minutos de tentativas frustradas de um beijo, que não aconteceu.
Enquanto eu era assediada, o espírito pagodeiro se apossou de minha amiga, que começou a "quebar". Mexia para um lado, para o outro, subia, descia e rebolava. Teoricamente, estava se dando bem, pois havia se enturmado com um grupo de pagodeiros. Isso, é obvio, não foi à toa, estava de olho em um dos meninos. A tática surtiu efeito, 30min de "quebrança" e lá estava Tatai aos beijos com um deles.
Achei que tinha me livrado do tal garoto. Pensei, até que enfim, Senhor! Quando olho para o lado, olha ele de novo tentando qualquer coisa, já numa atitude desesperada.
- Por que você esta agindo assim?
- Como?
- Não quer me beijar.
- Não, não é isso. Apenas você não faz meu tipo.
- Por que você se acha melhor dos que as outras? - Perguntou irritado.
- Porque sou única - respondi, olhando fixamente para os seus olhos.
Para ele, isso poderia não ter sentido, mas a ciência explica. Tem a ver com o DNA, código genético etc. Não era uma atitude de quem se acha. Bem que Ivete falou no começo do show:
- Se não güenta, pra que veio?
- Para que eu fui?
5 comentários:
Caraaa...que show viu!!Gostei da sua descrição,fiquei vendo sua amiga dançando o pagodão e imaginei sua cara com o pagodeiro do lado!!Bacana demais!
esse comentário de oficina é meu viu!!hehehe
tb gostei do texto, conseguiu prender o leitor até o final.
Karina, sou suspeita para falar, mas vi sua cara na hora do "Tô mal Thai" e na hora do fora no pagodeiro. Rs. Massa colega!
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